Vivemos tempos em que a preocupação com a sustentabilidade já faz parte da rotina de muitas pessoas, incluindo empresas, institutos e órgãos governamentais. Nesse sentido, a instalação do chamado banheiro seco é uma dessas soluções inovadoras e econômicas que ajudam nessa contribuição ambiental.
O banheiro seco – nome dado ao vaso sanitário que não utiliza água para transportar os dejetos – surge como uma solução inovadora dentro do conceito de saneamento sustentável.
Além de representar uma boa economia de água potável, a solução também é uma alternativa para localidades que convivem com a seca, garantindo tratamento seguro e sustentável.
Mas como funciona o banheiro seco? Será que ele é realmente eficiente para eliminar os dejetos sem utilizar água? E como fica o cheiro no cômodo?
Vamos explicar tudo neste artigo!
A evolução do saneamento e as privadas modernas
É fato que o uso de um sanitário moderno, com água potável, tal como conhecemos, torna o momento de eliminação dos dejetos muito confortável. Mas nem sempre foi assim – aliás, ainda hoje nem todos possuem essa comodidade.
Desde a antiguidade, a humanidade tem desenvolvido formas de lidar com os dejetos humanos. No passado, fossas e latrinas eram as soluções mais comuns.
Com o avanço da engenharia sanitária, surgiu o vaso sanitário moderno.
Apesar dele ter sido inventado em 1596 na Inglaterra, o produto só foi popularizado com a Revolução Industrial no século 18 e mais tarde, já no século 19, o vaso sanitário foi, enfim, ligado a um sistema subterrâneo de esgoto. A água potável entrou em ação para ajudar no transporte das fezes e urina.
Aliás, uma curiosidade: você sabia que no dia 19 de novembro é comemorado o “Dia Mundial da Privada”? Ele foi criado em 2013 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para inspirar programas e ações de combate à crise de saneamento pela qual passa o planeta.
O fato é que apesar da praticidade, o vaso sanitário gera uma grande necessidade de usar água tratada, o que acaba impactando diretamente o meio ambiente. Cada descarga pode usar entre 6 a 12 litros de água tratada. Por isso, é preciso investir em outras soluções inovadoras que também gerem o conforto do uso do sanitário.
É por isso que precisamos falar sobre o banheiro seco.
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O que é um banheiro seco?
O banheiro seco é um tipo de sanitário que não utiliza água para a eliminação de dejetos.
Em vez disso, ele promove a compostagem de resíduos, transformando-os em material orgânico reaproveitável. Essa solução evita o desperdício de água e contribui para a redução da poluição ambiental.
Em outras palavras: em vez de utilizar água, a pessoa joga materiais secos no sanitário – como serragem e palha, por exemplo – fazendo uma compostagem, que vira adubo.
Características e funcionamento de um banheiro seco
O banheiro seco pode ter diferentes formatos e tecnologias, mas geralmente segue o mesmo princípio:
- Separação de resíduos: alguns modelos possuem compartimentos distintos para urina e fezes, facilitando o processo de compostagem.
- Uso de materiais secos: serragem, cinzas, palha ou outros materiais são adicionados para auxiliar na decomposição e evitar odores.
- Ausência de descarga: como não utiliza água, o sistema dispensa redes de esgoto tradicionais.
- Compostagem de resíduos: o material depositado se transforma em adubo orgânico, podendo ser utilizado na agricultura ou jardinagem.
- Ventilação eficaz: sistemas de ventilação eficazes que garantem o processo de tratamento sem risco de atrair vetores e concentração de odores.
Vale dizer que a compostagem é um processo biológico de decomposição da matéria orgânica por microorganismos, como bactérias e fungos. Consequentemente, ocorre a transformação dos resíduos orgânicos em um material rico em nutrientes chamado composto orgânico. Esse composto pode ser usado como adubo natural para melhorar a qualidade do solo e promover o crescimento saudável das plantas.
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Por que substituir a água potável dos sanitários pelo banheiro seco?
Existem diversas razões para adotar o banheiro seco como alternativa ao modelo tradicional, principalmente em lugares que sofrem com a escassez hídrica. Alguns motivos são:
- Redução do desperdício de água: a eliminação da descarga reduz o consumo de água potável (lembre-se que cada descarga pode usar de 6 a 12 litros de água).
- Saneamento sustentável: promove um modelo de saneamento independente de redes de esgoto e mais eficiente em áreas rurais e urbanas.
- Menos poluição: reduz a contaminação de corpos d’água, evitando despejo inadequado de esgotos.
- Compostagem de resíduos: transforma os dejetos em fertilizante, contribuindo para o ciclo natural dos nutrientes.
- Baixo custo operacional: exige menos infraestrutura e manutenção comparado aos sistemas de esgoto convencionais, sem risco de vazamentos e entupimentos.
- Solução compacta: por exigir menor infraestrutura de tubos e conexões, os banheiros podem ser instalados em diversos locais, até mesmo dentro de motorhomes.
Com tantas vantagens do banheiro seco, eis a dúvida:
O banheiro seco produz mau cheiro no ambiente?
Não, um banheiro seco bem projetado e mantido corretamente não gera mau cheiro.
Isso acontece porque o sistema usa materiais secos, como serragem, cinzas ou palha, que ajudam a absorver a umidade e neutralizar cheiros. Além disso, a separação entre urina e fezes em alguns modelos reduz ainda mais a formação de odores.
Outro fator importante é a ventilação: muitos banheiros secos possuem dutos de ventilação que direcionam os gases para fora, mantendo o ambiente interno livre de maus odores.
Portanto, quando utilizado corretamente, o banheiro seco é uma solução higiênica, inodora e sustentável.
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Exemplos de banheiro seco
O banheiro seco já é uma solução adotada em diversas partes do mundo. No Brasil, ele é encontrado principalmente em ecoaldeias, propriedades rurais, parques, projetos de arquitetura sustentável e, mais recentemente, em projetos de apoio a comunidades carentes no Nordeste do Brasil.
Quer alguns exemplos?
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)
Em 2024, a Codevasf instalou 233 banheiros secos em 10 municípios do estado do Piauí, melhorando a realidade de várias famílias do semiárido. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Piauí é um Estado que apresenta a maior proporção de habitantes do Brasil sem banheiro em casa.
A tecnologia dos banheiros secos instalados pela Codevasf precisa apenas de ventilação natural e incidência solar para que haja o tratamento dos resíduos. Foi construído em cada módulo um receptáculo em sistema de carrossel e um janela para a desidratação e a redução dos resíduos fecais – cujo descarte pode ser feito de 2 a 4 meses em vala rasa e de modo simples.
Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (EcoNoronha)
A concessionária EcoNoronha implementou banheiros secos com sistema de compostagem em suas instalações, visando a sustentabilidade. O projeto foi desenvolvido pelo Grupo Cataratas.
Segundo o site oficial da concessionária, a estrutura, chamada de PIC Leão, tem a característica de ser classificada como 100% sustentável por possuir abastecimento elétrico utilizando 100% de energia solar, decks em madeira plástica, reaproveitamento da água da chuva e banheiros secos com sistema de compostagem.
Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC)
O Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC), localizado em Pirenópolis (GO), utiliza banheiros secos como parte de seu modelo de sustentabilidade.
Segundo matéria publicada no portal de notícias G1, as casas da ecovila possuem banheiros secos. Neles, as fezes são misturadas à serragem, sem o uso de água. Os dejetos ficam armazenados em uma câmara pintada de preto, para aumentar o calor interno.
A compostagem dura cerca de seis meses e depois vira adubo. Os moradores garantem que não há mau cheiro, já que o odor sai por uma chaminé.
Banheiro seco pelo mundo
Várias iniciativas mundo afora para a construção de projetos mais sustentáveis incluem o uso do banheiro seco.
Países como Finlândia e Estados Unidos, por exemplo, já utilizam banheiros secos há anos, principalmente em áreas rurais e casas de veraneio, onde fica cara a instalação de fossas.
Na edição de 2024 da Bienal de Arquitetura de Veneza, a arquiteta Arja Renell levantou a problemática do desperdício de água potável em sanitários, demonstrando a importância da inclusão de banheiros secos nos projetos de arquitetura.
Os visitantes do pavilhão finlandês da Bienal puderam conhecer um dos projetos de banheiro seco, chamado de Huussi:
Esses exemplos demonstram que o banheiro seco é uma alternativa viável para diversos cenários, oferecendo soluções eficientes para o saneamento sustentável – e levando conforto, praticidade e dignidade às pessoas que precisam contar com um sistema adequado de eliminação de dejetos.
Que tal conhecer mais soluções sustentáveis para reduzir o desperdício de água?
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Foto de capa: Reprodução Pinterest
