A segurança hídrica é um tema essencial de ser discutido em um país de contrastes como o Brasil. Em tempos de crise hídrica e mudanças climáticas, a gestão da água se torna cada vez mais desafiadora.
Dados do relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2023, feito pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), informou que mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas por cheias. Por outro lado, cerca de 7 milhões de pessoas foram afetadas por secas e estiagens – sendo que 45% delas vivem na região Nordeste.
Em um país com uma farta oferta de água doce – mas com distribuição desigual, o que fazer para garantir o acesso à água potável? Qual o papel dos governos e da sociedade civil em relação à segurança hídrica? Quais as soluções?
Vamos conversar sobre o tema neste post!
O que é segurança hídrica?
A segurança hídrica refere-se à capacidade de garantir o acesso à água em quantidade e qualidade suficientes para suprir as necessidades humanas, ambientais e econômicas.
Isso inclui, por exemplo:
- fornecimento de água potável;
- saneamento adequado;
- manutenção dos ecossistemas;
- prevenção contra eventos extremos, como enchentes e secas.
Por isso, a gestão da água desempenha um papel importante para assegurar que recursos hídricos sejam utilizados de maneira eficiente e sustentável.
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Quais fatores influenciam a segurança hídrica no Brasil?
Diversos fatores afetam a segurança hídrica no Brasil, incluindo:
- Mudanças climáticas: alterações nos padrões de chuvas e temperaturas impactam a disponibilidade de água.
- Crescimento populacional: o aumento da demanda pressiona os recursos hídricos.
- Poluição dos mananciais: o descarte inadequado de resíduos afeta a qualidade da água.
- Desmatamento: alterações na vegetação impactam a recarga dos lençóis freáticos.
- Infraestrutura inadequada: a falta de investimentos em saneamento compromete o acesso à água segura.
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O cenário da segurança hídrica no Brasil
O Brasil enfrenta vários desafios em relação à segurança hídrica, principalmente em regiões semiáridas, como o Nordeste, onde a escassez hídrica é crônica.
Em contrapartida, regiões como a Amazônia possuem abundância de água, mas enfrentam problemas relacionados à gestão da água e ao saneamento precário.
No Sudeste, crises hídricas periódicas destacam a necessidade de políticas eficazes para o uso racional dos recursos.
Publicado em 2019, o chamado Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH), fruto de parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), definiu as principais intervenções em infraestrutura hídrica de natureza estratégica e relevância regional.
O Programa de Segurança Hídrica (PSH) estimou que são necessários investimentos da ordem de R$ 678 milhões para os estudos e projetos e R$ 26,9 bilhões para execução das obras recomendadas. É necessário, também, um aporte de R$ 1,2 bilhão/ano para assegurar uma adequada operação e manutenção dos empreendimentos.
As intervenções recomendadas no PNSH incluem estudos, projetos e obras de barragens, canais, eixos de integração e sistemas adutores de água.
Segundo o relatório, sem a adoção de novas medidas de gestão de recursos hídricos e considerando apenas a infraestrutura hídrica atualmente em operação, a expansão estimada das demandas setoriais de uso da água resultaria no cenário de segurança hídrica, no ano de 2035, apresentado no mapa a seguir:
Fonte: 3º Boletim de Monitoramento / Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH)
O papel dos governos e da sociedade civil em relação à segurança hídrica
O governo e a sociedade civil desempenham papéis complementares e essenciais na busca por soluções sustentáveis para a segurança hídrica.
Vamos a alguns exemplos de ações:
Ações governamentais
Os governos têm a responsabilidade de criar e implementar políticas públicas que garantam a gestão adequada dos recursos hídricos. Entre as principais ações estão:
- Investimentos em infraestrutura hídrica: ampliação e manutenção de reservatórios, redes de abastecimento, estações de tratamento e sistemas de reuso da água.
- Fiscalização e regulação: monitoramento do uso da água, prevenção contra desperdícios e penalização de práticas ilegais, como desmatamento de áreas de proteção hídrica e despejo de efluentes sem tratamento.
- Gestão integrada dos recursos hídricos: planejamento que considera diferentes usos da água (abastecimento humano, irrigação, geração de energia, etc.), garantindo equilíbrio entre as demandas e a preservação dos mananciais.
- Incentivo à pesquisa e inovação: apoio a soluções tecnológicas que otimizem o consumo de água, como dessalinização, reuso e captação de água da chuva.
- Educação e conscientização: campanhas para incentivar o consumo consciente da água, tanto em residências quanto no setor industrial e agropecuário.
Participação da sociedade civil
A sociedade civil também tem um papel importante na segurança hídrica, especialmente por meio de iniciativas comunitárias e pressão sobre governantes.
Confira algumas das principais contribuições:
- Ações individuais e coletivas: economia de água no dia a dia, adoção de tecnologias sustentáveis (captação de água da chuva, sistemas de reuso, etc.) e participação em programas de reflorestamento.
- Engajamento em organizações ambientais: apoio a ONGs e grupos que atuam na conservação dos recursos hídricos.
- Monitoramento social: cobrança de transparência e eficiência na gestão pública da água, exigindo políticas eficazes e investimentos adequados.
- Educação e sensibilização: disseminação de informações sobre a importância da segurança hídrica e boas práticas para o uso responsável da água.
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Como garantir a segurança hídrica no Brasil?
Como vimos, é possível garantir a segurança hídrica no Brasil por meio de esforços de políticas públicas e da própria sociedade civil.
Na prática, existem algumas tecnologias e soluções sustentáveis que promovem o acesso à água com o melhor custo-benefício possível. São elas:
Reuso da água
A reutilização da água em processos industriais e domésticos contribui para a economia de recursos hídricos. Tecnologias como sistemas de tratamento de esgoto para reuso podem reduzir o desperdício.
Captação da água da chuva
Sistemas de captação e armazenamento de água pluvial são soluções descentralizadas que ajudam a suprir necessidades diárias e a reduzir a dependência de reservatórios convencionais. Nesse sentido, o uso de cisternas é a tecnologia de melhor custo-benefício para armazenar a água.
Dessalinização
Para regiões com escassez de água doce, a dessalinização de água do mar pode ser uma alternativa viável para ampliar o acesso à água potável.
Proteção de nascentes e mananciais
A conservação de áreas de recarga hídrica é fundamental para garantir a qualidade da água e evitar a degradação dos recursos naturais.
Agricultura sustentável
Práticas como irrigação eficiente e uso de culturas adaptadas ao clima ajudam a reduzir o consumo de água na produção de alimentos.
Diante de tudo o que discutimos neste post, é fato que a segurança hídrica é um desafio que exige esforços conjuntos entre governos, empresas e a população. Mas ela é imprescindível para uma vida com dignidade em todos os seus aspectos.
Com investimentos adequados, soluções sustentáveis e a fiscalização dos cidadãos reivindicando políticas públicas de acesso à água potável, é possível garantir este precioso bem para as presentes e futuras gerações.
No próximo post, vamos explicar sobre uma solução que ajuda a captar e armazenar água da chuva, sendo uma importante ferramenta que contribui para a segurança hídrica: entenda o que é uma cisterna e como instalar.
Foto de capa: Miriam Alonso