As SbN e soluções em plástico podem conviver? Entenda!

Ao discutir o futuro do saneamento no Brasil, é comum surgir um aparente dilema: investir em soluções baseadas na natureza (SbN) ou apostar em tecnologias modernas, como aquelas feitas com plásticos de engenharia?

Alguns profissionais, ainda nos dias atuais, insistem em polarizar este tema, mas e se essa não fosse uma escolha excludente? E se a verdadeira inovação estivesse justamente na combinação desses dois caminhos? 

As SbN não apenas podem coexistir com soluções tecnológicas em plástico como, juntas, têm potencial para acelerar e escalar os avanços no setor, atendendo às urgências sociais e ambientais do país.

Por isso, vamos conversar sobre este tema? Confira!

O que são as SbN?

SbN é a sigla para soluções baseadas na natureza. Trata-se de abordagens que utilizam os próprios processos naturais para enfrentar desafios sociais, ambientais e econômicos. 

Em vez de depender apenas de obras de engenharia pesadas, as SbN apostam em ecossistemas saudáveis e funcionais como parte da solução.

Por exemplo: em áreas urbanas, o plantio de vegetação nativa em encostas pode evitar deslizamentos, enquanto zonas alagadas construídas artificialmente — mas com lógica natural — podem filtrar e tratar esgoto de maneira eficiente. 

No campo do saneamento, as SbN se aplicam a sistemas como:

  • jardins filtrantes, que usam plantas para tratar esgoto;
  • bacias de infiltração que reduzem o escoamento superficial e aumentam a recarga do lençol freático;
  • telhados verdes que ajudam na regulação térmica e no controle de enchentes.

Em resumo, as SbN valorizam a inteligência da própria natureza e podem ser planejadas para funcionar de forma integrada ao espaço urbano, rural ou industrial.

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A importância do equilíbrio entre o natural e o tecnológico

Uma das críticas recorrentes às SbN é que, apesar de sustentáveis, podem ser de difícil implementação em grande escala ou apresentar limitações de desempenho em certos contextos urbanos complexos. 

Por outro lado, as tecnologias convencionais — como as soluções descentralizadas de tratamento de esgoto em plástico, por exemplo — são conhecidas pela eficiência, modularidade e viabilidade de replicação rápida.

A grande questão não é escolher entre um ou outro modelo, mas entender como combinar as duas abordagens de maneira estratégica

As SbN não precisam ser vistas como “alternativas frágeis” frente ao concreto ou ao plástico. Elas podem e devem ser complementadas por soluções tecnológicas que tragam robustez, controle e escala.

Imagine, por exemplo, um sistema de tratamento de esgoto descentralizado em uma comunidade ribeirinha. 

O esgoto pode ser conduzido por dutos de PVC até uma zona de raízes com plantas filtrantes, que tratam os resíduos naturalmente. Aqui, a tecnologia em plástico oferece a infraestrutura e a durabilidade, enquanto a SbN promove o tratamento biológico com baixo custo energético e sem uso de produtos químicos.

Qual o potencial das SbN no saneamento?

No Brasil, onde o déficit de saneamento básico ainda atinge milhões de pessoas, as SbN representam uma alternativa estratégica, especialmente em regiões periféricas ou áreas rurais de difícil acesso.

Além de serem geralmente mais baratas de implantar e operar, as SbN geram benefícios múltiplos, tais como:

  • melhoria na qualidade da água e do ar;
  • aumento da biodiversidade local;
  • redução das ilhas de calor em áreas urbanas;
  • criação de espaços verdes que também servem à educação ambiental e ao lazer.

Em comunidades com pouca infraestrutura, as SbN podem ser a primeira porta de entrada para uma vida mais digna e saudável, contribuindo com soluções viáveis para o tratamento de água e esgoto, drenagem urbana e gestão de resíduos.

Por exemplo: em áreas com alta incidência de enchentes, a construção de jardins de chuva — um tipo de SbN — ajuda a reter o excesso de água da chuva, reduzindo o risco de alagamentos e promovendo a infiltração no solo.
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O papel das soluções tecnológicas em plástico na ampliação do alcance e eficiência

É aqui que entra o papel fundamental das tecnologias em plástico. Materiais como o polietileno de alta densidade (PEAD) e o PVC são utilizados em sistemas de saneamento por sua resistência, leveza, durabilidade e facilidade de instalação.

Quando se fala em soluções híbridas, a ideia é usar essas tecnologias para ampliar a escala das SbN. As SbN podem oferecer uma solução local e descentralizada, enquanto os componentes plásticos permitem que essa solução seja replicada rapidamente, com baixo custo e alta padronização.

Além disso, os plásticos de engenharia podem ser utilizados para criar reservatórios, caixas de contenção, conexões e até sistemas automatizados de controle de fluxo, integrando-se perfeitamente a sistemas que também envolvem vegetação, solo e água.

Em outras palavras, enquanto as SbN fornecem o “coração ecológico” do sistema, as soluções plásticas oferecem o “sistema circulatório” que garante o funcionamento contínuo e eficiente.

Exemplos de soluções em plástico que convivem com as SbN

Existem diversos casos reais em que soluções em plástico são parte indispensável de projetos baseados na natureza. Confira alguns exemplos que mostram essa sinergia na prática:

1. Canais de drenagem com placas de PEAD e jardins filtrantes

Em áreas urbanas, canais de drenagem com estrutura plástica podem direcionar a água da chuva para jardins filtrantes que retêm sedimentos e removem poluentes. Os dois sistemas atuam juntos, prevenindo enchentes e tratando a água naturalmente.

2. Tanques modulares de retenção pluvial com cobertura verde

Algumas cidades estão utilizando caixas d’água modulares de plástico enterradas sob áreas verdes. A vegetação ajuda na evapotranspiração e isolamento térmico, enquanto os tanques de plástico garantem a reserva e o reaproveitamento da água.

3. Estações compactas de tratamento com zona de raízes e tubos de PVC

Projetos de saneamento descentralizado utilizam tubos e conexões em PVC para transportar o esgoto até sistemas de raízes com plantas específicas. Esse modelo é ideal para escolas rurais, assentamentos e áreas isoladas.

4. Jardins de chuva conectados a redes plásticas de drenagem

Os jardins de chuva recebem água da chuva vinda de telhados e calçadas, canalizada por tubulações plásticas. Isso permite o aproveitamento total da infraestrutura existente com mínima intervenção.

5. Cisternas plásticas com SbN

As cisternas são estruturas — muitas vezes feitas com plástico de alta resistência — utilizadas para captar e armazenar água da chuva. Quando integradas com SbN, elas passam a fazer parte de um sistema mais amplo de gestão ambiental. 

Por exemplo:

  • Captação com cobertura verde: o telhado verde pode servir como superfície de captação de água, ao mesmo tempo em que reduz a temperatura do ambiente e promove biodiversidade.
  • Filtragem natural: a água da chuva pode passar por um sistema de pré-filtragem com brita, areia e carvão ativado natural, antes de ser armazenada. Esse filtro pode ser instalado em um pequeno canteiro, como um jardim de chuva adaptado.
  • Reutilização consciente: a água armazenada pode ser utilizada para irrigar hortas agroecológicas, sistemas agroflorestais ou jardins com espécies nativas — todos exemplos claros de SbN.

Esse tipo de integração é muito usado em escolas rurais e projetos de agricultura familiar no semiárido brasileiro, promovendo segurança hídrica com impacto ambiental positivo.

6. Biodigestores plásticos com SbN

Biodigestores são tecnologias que transformam resíduos orgânicos e esgoto doméstico em biogás e biofertilizante. Já são considerados uma solução ecológica, mas quando aliados a SbN, se tornam ainda mais completos:

  • Complemento com zona de raízes: após o processamento inicial do esgoto no biodigestor, o efluente pode ser direcionado para um sistema de tratamento com plantas aquáticas (como taboas e aguapés) que fazem o polimento final da água, reduzindo nutrientes e promovendo a purificação.
  • Reaproveitamento na produção vegetal: o biofertilizante pode ser usado em hortas agroecológicas, sistemas agroflorestais ou viveiros de mudas nativas, criando um ciclo fechado de reaproveitamento — totalmente alinhado aos princípios das SbN.
  • Controle de odores com cercas vivas e compostagem natural: o entorno dos biodigestores pode ser enriquecido com plantas que ajudam a controlar odores, além de atrair polinizadores e regenerar o solo.

Leia também | Passo a passo – Fossa Verde

Se você chegou até aqui, é porque realmente se interessa por soluções inovadoras para os desafios ambientais do Brasil. Que tal continuar essa conversa? 

No nosso próximo post, vamos aprofundar ainda mais sobre as tecnologias sustentáveis em plástico para obras de saneamento

E aproveite para nos contar o que achou deste conteúdo aqui nos comentários. Você acredita que SbN e tecnologias em plástico podem andar juntas? Queremos ouvir a sua opinião!

Foto em destaque de Alena Koval.

 

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