Saneamento e saúde pública: doenças que podem ser evitadas

A saúde pública no Brasil enfrenta desafios estruturais que impactam diretamente a vida de milhões de pessoas. 

Um dos fatores mais críticos é a falta de saneamento básico adequado, que inclui abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana. 

Segundo o Instituto Trata Brasil, cerca de 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água tratada, e mais de 100 milhões vivem sem coleta de esgoto. 

A ausência de saneamento não afeta apenas a saúde individual, mas também gera impactos econômicos e sociais significativos. Doenças relacionadas ao saneamento, como diarreia, hepatite A e leptospirose, resultam em internações hospitalares, perda de dias produtivos e altos gastos com tratamentos médicos, pressionando ainda mais o sistema de saúde pública. 

Neste artigo, você descobrirá como o saneamento básico está diretamente ligado à prevenção de doenças, quais são as principais enfermidades associadas à sua ausência, e quais estratégias práticas podem ser adotadas para proteger a população.

Por que o saneamento tem relação direta com a saúde pública?

O saneamento básico engloba serviços essenciais como abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana. 

Quando esses serviços são precários ou inexistentes, há um aumento no risco de doenças infecciosas e parasitárias. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já estimou que para cada 1 dólar investido em saneamento, há um retorno de 4,3 dólares em saúde pública, evidenciando a importância desses investimentos para a prevenção de doenças.

No Brasil, a situação é alarmante. De acordo com o Instituto Trata Brasil, cerca de 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água tratada, e quase 100 milhões vivem sem coleta de esgoto. Esses números refletem desigualdades regionais, com a Região Norte enfrentando os maiores desafios: aproximadamente 15 milhões de pessoas na região ainda não têm acesso à coleta de esgoto, representando quase 90% da população local.

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Quais doenças estão ligadas à falta de saneamento?

A ausência de saneamento básico adequado está diretamente associada ao aumento de diversas doenças, especialmente aquelas transmitidas por meio da água e do esgoto. Entre as principais doenças relacionadas ao saneamento, destacam-se:

  • Diarreia: Causada por bactérias, vírus ou parasitas presentes em água contaminada, é uma das principais causas de morte infantil no Brasil.
  • Hepatite A: Transmitida pelo consumo de água ou alimentos contaminados com fezes infectadas, afeta o fígado e pode levar a complicações graves.
  • Cólera: Doença bacteriana aguda transmitida por água ou alimentos contaminados, pode causar desidratação severa e morte em poucas horas se não tratada adequadamente.
  • Esquistossomose: Infecção parasitária transmitida por caramujos que habitam águas contaminadas com fezes humanas, afeta principalmente o fígado e o sistema urinário.
  • Leptospirose: Doença bacteriana transmitida pela urina de roedores, frequentemente associada a enchentes e acúmulo de lixo.
  • Febre tifoide: Infecção bacteriana transmitida por água ou alimentos contaminados, afeta o sistema digestivo e pode ser fatal se não tratada.

Além dessas, outras doenças como verminoses, dengue e malária também têm relação com condições inadequadas de saneamento. A falta de esgoto a céu aberto, por exemplo, favorece a proliferação de mosquitos transmissores da dengue e da malária.

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Como prevenir e solucionar as doenças provocadas pela falta de saneamento?

A prevenção é a chave para combater as doenças relacionadas ao saneamento. Algumas estratégia incluem:

1. Investimentos em infraestrutura de saneamento

A ampliação e melhoria dos sistemas de abastecimento de água e esgoto são fundamentais. 

Cidades como Campinas e Curitiba têm se destacado nesse aspecto. Campinas, por exemplo, alcançou 99,9% de cobertura de água tratada e 94% de esgoto tratado, com investimentos contínuos na melhoria de sua infraestrutura.

2. Educação sanitária e conscientização

Programas educativos que orientam a população sobre a importância do saneamento básico e práticas de higiene podem reduzir significativamente a incidência de doenças. A conscientização sobre o uso adequado de instalações sanitárias e a importância da lavagem das mãos são exemplos de ações preventivas.

3. Monitoramento e fiscalização

A implementação de sistemas de monitoramento da qualidade da água e fiscalização dos serviços de saneamento garantem que os padrões de saúde pública sejam atendidos. Órgãos como a Agência Nacional de Águas (ANA) e as secretarias estaduais de saúde desempenham papéis importantes nesse processo.

4. Parcerias público-privadas

A colaboração entre governos e empresas privadas pode acelerar a expansão dos serviços de saneamento. O Marco Legal do Saneamento Básico, instituído pela Lei nº 14.026/2020, estabelece metas para universalizar o acesso ao saneamento até 2033, incentivando investimentos privados no setor. 

Leia também | Tratamento de esgoto: é possível viver desconectado da rede pública de água e esgoto?

Tecnologias acessíveis de saneamento básico

Garantir o acesso ao saneamento básico não depende apenas de grandes obras de infraestrutura; diversas tecnologias acessíveis podem levar soluções eficientes a comunidades carentes, áreas rurais e regiões periféricas. 

Essas soluções ajudam a prevenir doenças relacionadas ao saneamento, melhorar a saúde pública e reduzir o esgoto a céu aberto:

Sistemas de tratamento de água compactos

Pequenas estações de tratamento modulares podem ser instaladas em comunidades sem acesso à água potável. Essas unidades filtram, desinfetam e tornam a água segura para consumo, reduzindo significativamente o risco de diarreia, hepatite A e outras doenças transmitidas pela água.

Filtros domésticos de baixo custo

Filtros de cerâmica, carvão ativado ou areia podem ser distribuídos para residências em áreas vulneráveis, oferecendo uma solução imediata para a purificação da água. Quando bem utilizados, são aliados importantes na prevenção de doenças relacionadas ao saneamento.

Banheiros ecológicos e sanitários secos

Sanitários secos ou compostáveis não requerem conexão à rede de esgoto e transformam resíduos humanos em fertilizantes seguros. Essa tecnologia reduz a contaminação do solo e da água, evitando a proliferação de patógenos e contribuindo para a saúde pública.

Sistemas de fossas biodigestoras

Fossas biodigestoras convertem resíduos orgânicos em biogás e fertilizante, solucionando o problema do esgoto a céu aberto. Elas são especialmente úteis em áreas rurais e comunidades isoladas, oferecendo saneamento de baixo custo com benefícios ambientais e de saúde.

Coleta e gestão de resíduos sólidos comunitária

A implementação de sistemas comunitários de coleta de lixo, aliados à reciclagem e compostagem, evita o acúmulo de resíduos e reduz a proliferação de vetores de doenças, como roedores e mosquitos transmissores da dengue e da malária.

Conclusão

Investir em saneamento básico é investir diretamente na saúde pública. A falta de acesso à água potável, coleta de esgoto e manejo adequado de resíduos não só aumenta o risco de doenças relacionadas ao saneamento, como também gera custos elevados para o sistema de saúde e compromete a qualidade de vida da população.

Como vimos, doenças como diarreia, hepatite A, leptospirose e esquistossomose poderiam ser significativamente reduzidas com a implementação de medidas de prevenção simples, educação sanitária e tecnologias acessíveis, como filtros domésticos, fossas biodigestoras e sanitários secos. 

O investimento em infraestrutura, aliado a parcerias público-privadas e programas educativos, se mostra uma estratégia eficaz para reduzir o esgoto a céu aberto e proteger a população.

Portanto, garantir o saneamento básico não é apenas uma questão de infraestrutura, mas uma ação fundamental de saúde coletiva. 

Cada medida adotada para levar saneamento às comunidades vulneráveis funciona como uma vacina coletiva, prevenindo doenças e promovendo bem-estar. 

Com planejamento, tecnologia e conscientização, é possível transformar o acesso ao saneamento em uma poderosa ferramenta de prevenção e fortalecimento da saúde pública.

Você sabia que o saneamento é uma das maiores vacinas coletivas? Opine nos comentários!

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O que é considerado saneamento básico?

Saneamento básico inclui serviços de abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana.

Diarreia, hepatite A, cólera, esquistossomose, leptospirose e febre tifoide são algumas das principais doenças associadas à falta de saneamento adequado

Você pode contribuir adotando práticas de higiene, participando de programas educativos e apoiando iniciativas que busquem melhorias na infraestrutura de saneamento local.

Investir em saneamento básico resulta na redução de doenças, melhora na qualidade de vida, aumento da produtividade e diminuição dos custos com saúde pública.

O Instituto Trata Brasil disponibiliza dados e relatórios atualizados sobre o saneamento básico no país em seu site oficial.

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